Passei um bom tempo sem vontade
de escrever e não porque a inspiração não viesse ou por achar fraca as
histórias, simplesmente porque parecia não ser necessário dizer o que tinha em
mente. Vejo agora com alegria que foi bom esse tempo, é como se eu estivesse
estado num alto de uma montanha fria a meditar, esperando um big bang acontecer para as histórias
voltarem a se concretizar. E foi o que aconteceu: um estalo ou como diria os
críticos analisando uma obra clariciana, um momento epifânico... em meio a
rotina, ao passar dos dias normalmente, tive vontade de escrever. E para ser
mais objetiva, a palavra escrever neste meu caso se remete a falar poeticamente
das coisas mundanas e sendo mais objetiva ainda, escrever é para mim desabafo,
um ato de tirar o sufoco do peito e jamais uma liberdade que se opõe à prisão
ou uma forma de me revelar, de usar de eu-líricos e pseudônimos para falar do
que sinto. Sou eu mesma. Eu que sinto tudo que escrevo. A inspiração é minha
retirada de qualquer coisa. Isso não quer dizer de maneira alguma que as vozes
e personagens presentes nas histórias sou eu... quer dizer, sim sou eu, mas uma
pessoa que se deixa incorporar por outros. Uma incorporação de personagem e não
espírita. É como quando tenho que incorporar um personagem para representar
numa peça. É isso: escrever pra mim é uma forma de representar, só que
escrevendo e de certa forma também atuando. Engraçado... agora percebo porque
gosto de escrever!
Não posso ser hipócrita associando
a minha volta simplesmente a uma epifania. É que uma certa feia me disse que feia
ela era, “contudo, capaz de criar beleza. Não a falsa beleza que os espelhos enganosamente
refletem, mas a verdadeira e duradoura beleza dos textos que [ela] escrevia,
dia após dia, semana após semana – como se estivesse num estado de permanente e
deliciosa embriaguez” e isso me fez enxergar a importância de eu continuar
escrevendo. Eu não estou querendo dizer com isso que eu me sinto feia, não
vamos olhar as coisas ao pé da letra, embora na maioria dos dias eu me sinta um
serzinho bem abominante; o fato é que essa feia é a representação da
imortalidade e imparcialidade de um texto perante seu autor. Explico: o que ela
escreve se sendo verdadeiro, independe de ser bom ou ruim, eleva ‘divinamente’
seu estado ‘humano’, faz-lhe importante por causar algum tipo de sensação
sublime e também imortaliza sua existência, pois suas sensações, sentimentos e
opiniões ficam por ai até que alguém os encontre e mesmo que jogue fora ou
queime, mas os encontrou e nesse instante o que ali está escrito revela a
passagem de uma determinada pessoa que via na escrita uma forma de dizer ao/o
mundo. Falo isso porque não acredito que ninguém queira passar nesse mundo de
forma sutil e não falo de marcar a história, mas de se fazer notar por qualquer
boa ação, boa lembrança e por que não palavras (ad)vindas do coração?
É isso que quero com os textos:
deixar algo meu quando eu me for. Não para qualquer pessoa por um acaso do
destino. Quero que meus filhos saibam quem eu sou também pelo que escrevi. Sei que
minha educação, minhas atitudes, minhas ações e meus conselhos não serão
capazes de me dizer completamente. E desde que descobri a poesia ou a forma
poética para falar de tudo e também como sou eu e não eu-líricos ou pseudônimos
a se manifestar, essa vai ser a melhor maneira de ser entendida completamente. Não
espero ser uma super heroína para meus filhos, só quero que eles saibam e
sintam a força do que lançamos ao mundo, porque o que lançamos ao mundo não tem
mais volta, é um grão da gente todo dia que se vai. Escrevo e me lanço ao
mundo. E o que escrevo é um mundo que se lança de mim.