Tão triste e tão só era a menina
de olhos grandes. Passava horas e horas ao sereno, querendo pegar na brisa um
vento de aconchego. Quando a noite chegava, ela se dirigia pra seu melhor lugar
no mundo, a goiabeira do quintal. Era lá que as melhores conversas aconteciam e
também as piores lágrimas. Sempre pensava que a qualquer momento alguém
escutaria seus sussurros ou seus suspiros e quando não se controlava no choro,
colocava a mão na boca até se conter. Nem sabia por que chorava, a única coisa
que lhe via a cabeça era a dor de coração, na verdade era apenas uma dor no
peito que parecia sugar todo seu ar. Desde que deu pra entender das coisas da
vida ela começou a ter esses pantinhos, como dizia sua vó, mas não era porque
ela queria, era porque acontecia. Sua
mãe bem que saberia dizer o remédio certo pra curar esse mal ou no mínimo,
fazia-lhe um carinho até o sono engolir a dor. E ela desejava tanto ter sentido
pelo menos uma única vez os dedos macios de sua mãe lhe acariciando a cabeça, o
rosto, os braços. Então olhava pra suas mãos e imaginava que seus dedos finos e
cumpridos seriam iguais ao de Dona Elena; mas só os dedos mesmo porque com
certeza, sua mãe não teria na palma das mãos pele tão áspera e cortes
incicatrizáveis. E quando estava assim, pensando no ser maternal, de alguma
forma a dor de coração parecia dar uma trégua, mas era só aquele instantinho.
Não tinha uma só noite que a dor não viesse. Não tinha uma noite que ela não
chorasse, que ela não tapasse a boca, que ela não pensasse na mãe, que ela não quisesse
sair por ai quando todos de casa estivessem dormindo. Queria ir atrás daquele
Cristo que sempre aparece na televisão e pra lhe pedir uns conselhos, que ele
lhe desse um rumo na vida. Era o único capaz de fazer isso, pois segundo ela,
Cristo era alguém que não tinha pecados e como sempre ele estava ali sem sair
do alto daquela pedra, não haveria como não encontra-lo. Embora sentisse essa
vontade sabia que precisava crescer, só mais um pouco, crescer como suas irmãs:
saber se maquiar, ter peitos e pernas pra os homens passarem a mão e pagar pra
elas passearem com eles. Só não gostava muito da ideia de homens passando a mão
pelo seu corpo, isso parecia muito com a brincadeira que seu pai gostava de
brincar com ela. Mas a parte de ganhar dinheiro só pra passear era muito
agradável. Então suspirava pacientemente e imaginava como seria quando tivesse
dinheiro e pudesse sair dali pra nunca mais ouvir gritos da sua vó, nem brincar
com seu pai e deixar de arrumar a casa bem cedinho antes de ir pra escola. Esse
instante de sonhos era libertador: ela dava um abraço bem apertado e demorado
na goiabeira. Tinha vontade de ir dormir logo pra o tempo passar depressa e ela
crescer. Ai ela descia no pulo e saia correndo. E antes mesmo que subisse o
último degrau pra entrar em casa, olhava pra trás e acenava com a mão como se
dissesse “até amanhã”.
29 de setembro de 2012
21 de setembro de 2012
Motel
Aqui, onde os casais se lambuzam
Onde as virgens são descabaçadas
Onde os gemidos rompem o silêncio
Onde os maridos traem
Onde as meninas se perdem
Onde as donzelas são iludidas
Onde as esposas se libertam
Onde os antigos experimentam,
Eu ganho dinheiro pra viver
Mantendo cama forrada,
Lençol limpo e quarto arrumado.
19 de setembro de 2012
8 de setembro de 2012
Mininu
Meu príncipe atrapalhado
Chegou de perna de pau
Tão lindo, tão faceiro, tão quase caindo
Me carregou nos braços
Mostrando os pequenos seres do alto
Cantando canções de roda ao meu ouvido
Fazendo bola de chiclete
Entres flores-margaridas
Me deitou lentamente
Apontou uma estrela no céu
E disse que ela seria nossa
Criamos ali um bem imaterial
Que homem nenhum alcançaria:
O amor brilhante no céu.
7 de setembro de 2012
Ser (i)racional
Tinha uma vontade de ser animal, usar de instinto.
Na hora da devoração, lembrava-se que era um homem e retomava os sentimentos.
6 de setembro de 2012
4 de setembro de 2012
Assinar:
Postagens (Atom)